terça-feira, 25 de maio de 2010

9. UTILITARISMO: ÉTICA TELEOLÓGICA

UTILITARISMO: e o projeto de construir uma ética racional

Dr. Luis Alberto Peluso

“Utilitarianism is still the ethical theory which people love to hate”.(Harrison, Ross. “Introduction”. In “A Fragment on government”, Jeremy Bentham, Cambridge, Cambridge University Press, 1994. p.XVI)


3. RESUMO


O utilitarismo corresponde a uma tradição filosófica que consiste em pensar os problemas de organizar as relações entre as pessoas a partir da idéia que podemos conhecer o bem e o mal em função de critérios identificáveis pela nossa capacidade racional de conhecer. O utilitarismo tem, assim, dois pressupostos fundamentais: a) somos seres ilustrados, isto é conhecemos através da investigação racional; b) a natureza nos colocou sob o domínio de dois senhores: o prazer e a dor, isto é, somente agimos movidos pela busca do prazer (bem) e pela fuga da dor (mal). Esses são os ingredientes para a construção de um projeto ético que faça face aos problemas de saber, racionalmente, qual o comportamento que, de fato, é praticado (psicologia) como aquele que deve ser escolhido (ética) pelos agentes nas mais diversas situações. Ao longo dos anos, desde o final do século XVIII, vem sendo construído um enorme acervo de soluções para os problemas que decorrem da tentativa utilitarista de aplicar o princípio de utilidade na avaliação ética de nossas ações. Isto é, aplicar o princípio pelo qual uma ação é considerada como devida (bem), ou indevida (mal), conforme sejam os seus resultados identificados em termos de prazer ou de dor. Estaremos aqui investigando como foi que isso tudo começou e a relevância disso para os debates que ainda hoje travamos em filosofia política.

4. INTRODUÇÃO

A palavra utilitarismo indica uma tradição moderna de reflexão filosófica que teria se tornado expressiva no desenvolvimento do pensamento europeu insular a partir de um conjunto de autores que se conheciam, referiam-se mutuamente, comungavam um certo conjunto de teses fundamentais, discutiam problemas comuns, atuavam politicamente em favor da implementação, pelo poder público, de um acervo de soluções e faziam proselitismo em favor de determinadas reformas no contexto social. Isso significa que os utilitaristas constituíam a primeira escola filosófica, em sentido moderno, que teria surgido no mundo anglo-americano.

Estudiosos que trabalham sobre a história do utilitarismo têm feito referências aos utilitaristas como pensadores que propõem soluções revolucionárias para os problemas de seu tempo. Assim, Elie Halévy considera que alguns deles foram autênticos defensores de soluções radicais, no sentido que suas propostas estariam fundamentas numa posição que poderia ser chamada de radicalismo filosófico. Isto é, eles se utilizavam dos princípios utilitaristas para abordar criticamente a ordem estabelecida e defender sugestões de amplas reformas sociais. O fato é que os Benthamitas, como eram referidos, inicialmente, os ativistas que compunham o núcleo dos seguidores das idéias sistematizadas por Jeremy Bentham, envolveram-se nas discussões dos assuntos correntes desde o final do século XVIII, dando uma especial ênfase às decorrências especulativas da aplicação de um conjunto de teses que se construíam a partir da confiança na razão humana e na tentativa de construir um sistema justificativo das ações humanas elaborado a partir da aplicação do princípio de utilidade.

Quando nos referimos a tradição utilitarista podemos pensar em autores que participaram, com diferenças na sua forma de atuação, de um movimento filosófico que teve seu apogeu no período de século e meio, entre os anos finais do século XVIII e final do século XIX. Estamos falando de gente como Claude Adrien Helvetius, David Hume, Cesare Beccaria, Joseph Priestley, Jeremy Bentham, James Mill, Henry Sidgwick, William Paley, John Stuart Mill, William Godwin, Thomas Robert Malthus, Adam Smith, David Ricardo. Através das obras escritas por esses autores, o utilitarismo contribuiu para o debate dos temas mais importantes que ocuparam a agenda dos intelectuais envolvidos em discutir as soluções para o problema de identificar critérios para distinguir ações boas de ações más, isto é, a questão de encontrar respostas para perguntas sobre os referenciais que poderiam ser usados na escolha dos cursos de ação que se punham aos seres humanos nas diferentes situações. Nos últimos cinquenta anos, teria ocorrido uma retomada das teses utilitaristas. Autores como Herbert L.A. Hart, Peter Singer, David Lyons, Richard Hare, Esperansa Guisán, José Manuel Bermudo, Fred Rosen, Philip Schofield, Amartya Sen são responsáveis pelo expressivo volume de produção intelectual que tem caracterizado os estudos sobre o utilitarismo. Ademais, alguns projetos audaciosos de pesquisa de temas atuais e editoração das obras clássicas de pensadores utilitaristas vem sendo desenvolvidos em Agências e Institutos acadêmicos, tais como o Bentham Project no University College, a International Society for Utilitarian Studies, a Sociedad Iberoamericana de Estudios Utilitaristas e as prestigiosas revistas Utilitas e Telos.

De uma forma geral, é muito difícil apontar as teses fundamentais que constituem o ponto de vista utilitarista. Autores, como os elencados acima, são conhecidos pela originalidade de sua reflexão, o que torna ainda mais difícil a tarefa de indicar os aspectos onde seus pensamentos coincidem. Para efeitos didáticos, podemos afirmar que todos os autores conhecidos como utilitaristas concordam em dois pontos básicos. Primeiramente os utilitaristas concordam com a tese que o ser humano é um ser cognitivo. Isto é, o conhecimento é o instrumento de que dispõe o ser humano para construir, através de representações mentais, o significado do mundo e para descobrir os critérios que tornam as nossas ações compatíveis com o sentido que damos a ele. E a forma mais confiável de conhecimento é a racional. É racional o conhecimento que satisfaz certos critérios formais ou metodológicos, tais como clareza, precisão, coerência, sistematização consistente e controle empírico. Nesse sentido, os utilitaristas se colocam como expressivos de uma certa mentalidade ilustrada, que confia na capacidade esclarecedora da razão humana. O ser humano conhece e age pela razão, essa seria uma primeira afirmativa que revela o caráter da tradição utilitarista. Entretanto, os utilitaristas não se tornaram conhecidos pela sua contribuição sobre a natureza da racionalidade humana ou sobre a fundamentação de uma epistemologia racionalista. Eles se tornaram importantes interlocutores por sua contribuição sobre a teoria da ação. Isto é, tiveram uma especial atenção para os problemas que concernem à identificação dos critérios para a escolha dos cursos de ação que se põe aos seres humanos nas diferentes situações e o papel desempenhado pela racionalidade humana na teoria da ação. Nesse sentido, a tradição utilitarista tem contribuído para o debate sobre os critérios de identificação do bem e do mal. A teoria moral ou ética e a teoria sobre o direito são áreas que têm recebido o maior impacto das sugestões do utilitarismo.

Em segundo lugar, os utilitaristas concordam que os conceitos de bondade ou maldade das ações concernem às conseqüências que delas decorrem. Assim, são moralmente justificáveis as ações que maximizam o bem estar de todos aqueles seres sencientes que, de alguma forma, são afetados por elas. O princípio cuja explicitação aponta os critérios de aprovação ou reprovação das condutas dos agentes foi formulado pela primeira vez por J. Bentham, que o chamou de princípio de utilidade. Posteriormente, o próprio Bentham o identificou como o princípio da maior felicidade ; e, ainda, mais tarde o chamou de princípio da felicidade do maior número . Por princípio de utilidade, ou princípio da felicidade do maior número, é indicado aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer ação conforme a tendência que ela possua de aumentar ou diminuir a felicidade daquele cujo interesse esteja em questão, isto é, conforme a tendência da ação em promover ou se opor à sua felicidade. Os utilitaristas sustentam que quando se parte do princípio da maior felicidade como fundamento da teoria moral é possível sustentar que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, o prazer, a vantagem e erradas conforme tendam a produzir a infelicidade, a dor, o sofrimento. Os utilitaristas trabalham com a presunção básica que as ações humanas, pelo menos as que são o resultado da vontade humana, são motivadas pelo desejo de obter algum prazer ou evitar alguma dor. Prazer e dor são termos aqui considerados em sentido amplo. Assim, entende-se por prazer qualquer sensação que um ser humano prefere sentir em um dado momento, ao invés de sentir nenhuma; considera-se dor aquela sensação que um ser humano prefere sentir nenhuma, ao invé de sentí-la em um dado instante. J.S. Mill tentou introduzir a idéia que isto não significa que os utilitaristas admitem que todos os prazeres são iguais e que somente são passíveis de diferenciação no que concerne à quantidade. Para ele: ”É perfeitamente compatível com o princípio de utilidade reconhecer o fato de que algumas espécies de prazer são mais desejáveis e mais valiosas do que outras. Enquanto na avaliação de todas as outras coisas a qualidade é tão levada em conta quanto a utilidade, seria absurdo supor que a avaliação dos prazeres dependesse unicamente da quantidade” . Ao que tudo indica, todos os utilitaristas concordariam que o princípio da maior felicidade é o ponto de partida de toda argumentação moral. Assim, as regras e preceitos de conduta que expressam a moralidade humana tem como fim último a realização de uma existência isenta, tanto quanto possível de dor, e o mais rica quanto possível de prazer, seja do ponto de vista da quantidade como da qualidade, para todos os seres humanos e para todos os seres sencientes que existem no mundo.

Numa tentativa de realizar um balanço das contribuições com que a tradição utilitarista tem participado dos debates sobre teoria moral e filosofia social, John Plamenatz destaca três aspectos. Primeiro, os utilitaristas têm especial cuidado em construir explicações elaboradas e coerentes das origens sociais e funções da moralidade. Segundo, eles têm se interessado pela linguagem da moral e tentam explicar o que ela tem de peculiar. E terceiro, eles fazem uso de métodos que, desde o tempo dos utilitaristas clássicos, têm se tornado cada vez mais usados para explicar como o ser humano se comporta e subsidiá-lo com orientação sobre como agir.

Confiança na razão e entusiasmo com a felicidade humana, esses são dois dos ingredientes fundamentais da visão ética do utilitarismo. Certamente que o projeto ético dos utilitaristas, enquanto uma tentativa de construir uma ética racional tem seus limites. Os debates sobre as teorias morais têm se desenvolvido em diferentes direções. Dentre outros, há aqueles que não vislumbram a possibilidade da construção de projetos éticos, posto que os critérios dos juízos éticos estão além dos limites do que pode ser dito pela nossa linguagem. Há os que acreditam que os utilitaristas constróem uma interpretação formalista da razão humana como instrumento confiável de investigação. Para esse tipo de críticos, a razão formal dos utilitaristas produz uma visão superficial dos problemas éticos e não atinge os fundamentos do agir humano que estão implícitos nos juízos morais. Há, ainda, os que não têm entusiasmo pela felicidade humana, uma vez que não entendem que sua busca possa ser suficiente para dar sentido ao agir humano. O que isso parece demonstrar é que o utilitarismo não conseguirá satisfazer todas as expectativas das pessoas. Entretanto, os utilitaristas têm sido interlocutores profícuos de diferentes tradições de investigação sobre os problemas morais e tem tentado apresentar uma resposta às críticas que lhe são postas. No estágio em que nos encontramos nos debates sobre teoria moral ninguém pode se arvorar em ter a última palavra. O que importa é não renunciar à idéia que a discussão deve continuar.


VER: http://cafesfilosoficos.wordpress.com/2010/01/02/filosofia-politica-contemporanea-o-utilitarismo/

VER: "Diálogo sobre a Ética Kantiana" de Luis Veríssimo
DISPONÍVEL EM:
http://criticanarede.com/html/dialogokant.html

16 comentários:

  1. Caros Alunos,
    ´pós ler o texto, elabore um breve comentário e envie para postagem.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. No meu entender os utilitaristas acreditam que os efeitos que uma ação produz neste mundo são tudo o que importa para seu valor ético. Os utilitaristas preocupam-se mais diretamente com o bem-estar em nosso mundo. Da corrente utilitarista temos Jeremy Bentham, inglês que, como Kant, acreditava que os interesses do indivíduo concordam com os da sociedade. Considerava o prazer e a dor como motivação da ação correta. Já John Stuart Mill expoente inglês do utilitarismo, diferenciava-se de Bentham ao reconhecer diferenças na qualidade e quantidade de prazer. Para Richard Hare, utilitarista dos últimos cinquenta anos, o ato certo não é aquele que, ponderados os resultados possíveis de cada curso de ação disponível e as suas respectivas probabilidades, maximiza a utilidade esperada, mas aquele que efetivamente dá origem ao maior total de bem estar. Por fim importa sublinhar que Hare não identifica o bem-estar com o prazer e a ausência da dor, nem com a fruição de uma pluralidade de bens, mas com a satisfação de desejos ou preferências. No pensamento utilitarista de Peter Singer se separa o bem do mal tentando identificar quanta felicidade ou sofrimento uma ação causa aos seres vivos. Para John Stuart Mill (utilitarismo da norma) tudo o que não cause prejuízo (dor) direta ou indireta a terceiros é moralmente correto. De uma forma mais vasta, o utilitarismo prevê a consideração dos interesses globais - de todos os potenciais afetados – e clama por um balanço positivo entre beneficiados e prejudicados por uma ação. Singer parte destes princípios. Como se percebe, o termo utilitarismo não conta com uma acepção única, ou seja, possui uma grande variedade de sentidos, de forma que, é para designar toda uma série de doutrinas ou teorias, tanto de natureza fatual, como de caráter normativo. Mas é fundamental que se discuta o termo utilitarismo em relação aos que o interpretam como sistema ético “Confiança na razão e entusiasmo com a felicidade humana, esses são dois dos ingredientes fundamentais da visão ética do utilitarismo”(Professor Dr. Luis Alberto Peluso). Assim, para estes, é primordial que se identifique os princípios ou critérios do agir moralmente, estabelecendo, em quais condições podemos julgar se uma ação é moralmente reta, obrigatória ou proibida. Pode-se dizer então, que o utilitarismo é uma questão presente fortemente nos dilemas da existência humana, onde o ideal é um indivíduo motivado por um auto-interesse racional em busca de prazer e felicidade prevenindo-se da dor e da infelicidade “Pode-se dizer que o ser humano conhece e age pela razão, essa seria uma primeira afirmativa que revela o caráter da tradição utilitarista”(Prof. Dr. Luis Alberto Peluso).

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  4. Caros alunos,
    Creio que o Luciano nos enviou uma postagem exemplar de como, com algum esforço, os alunos são capazes de comentar de forma refletida sobre temas de Filosofia.

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  5. A postagem do Luciano de fato é pontual e contribui muito para a compreensão do tema, neste sentido passo a transcrever um trecho que melhor ilustra a contribuição da corrente utilitarista:
    "...John Plamenatz destaca três aspectos. Primeiro, os utilitaristas têm especial cuidado em construir explicações elaboradas e coerentes das origens sociais e função da moralidade. Segundo, eles têm se interessado pela linguagem da moral e tentam explicar o que ela tem de peculiar. E terceiro, eles fazem uso de métodos que, desde o tempo dos utilitaristas clássicos, têm se tornado cada vez mais usados para explicar como o ser humano se comporta e subsidiá-lo com orientação sobre como agir", da postagem do Luciano, em seus finalmentes destaco "... que o utilitarismo é uma questão presente fortemente nos dilemas da existência humana, onde o ideal é um individuo motivado por um auto-interesse racional em busca do prazer..." O utilitarismo de fato é uma questão atual em nossa contemporaneidade, porém o que não temos hoje e se tivermos é em escassez, seria o indivíduo motivado por um auto-interesse racional. É possível inferir a partir do comportamento humano uma busca pelo prazer, porém, longe de um psicologismo ideológico, muito mais próximo de Hegel e inclinado em Sartre penso que o Utilitarismo se funde dentro de uma ação, sem que seja a razão! pois que tribunal é este? Toda ação tem por base a liberdade humana dentro de um contexto existêncial, longe de um passado, o homem parte em busca de formar uma consciência que antes de existir é um nada, por isso, discordo da auto-motivação racional e acredito em uma motivação que se dá em decorrência de uma relação com outro, pelo outro ou para o outro em busca de um prazer, onde definimos o que é bom do que é mau a partir das consequencia que temos pelos reflexos obtidos em sociedade, sendo assim, o prazer não está na razão, mas nas ações que este individuo realiza por intermédio de sua liberdade construindo dentro de uma relação com o mundo em que vive sua consciência.

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  6. Concordo com os comentários acima, realmente o utilitarismo é vasto e não cabe em uma única definição. Mas o que de fato me intriga na posição utilitarista, seja qual for sua vertente, é a afirmação que o ser humano conhece e age pela razão, e que através desta pode reconhecer o bem e o mal. Acho muito arriscado traçar uma ponte definitiva entre racionalidade e ética porque acredito que ambas podem se distanciar muito em alguns casos. Por exemplo, a teoria de superioridade da raça ariana, divulgada por Hitler e amplamente aceita na Alemanha a partir da década de 30. Era uma teoria racional, apoiada inclusive em estudos científicos, comprovados empiricamente. Muitas pessoas racionalmente aceitaram esta teoria e em nome dela incontáveis atrocidades foram cometidas. Que correspondência há entre ética e racionalidade neste caso?
    Acredito que se pode construir argumentos racionais, bem fundamentados logicamente para justificar muitas teorias e ações totalmente vazias de valoração ética, a história está aí para nos comprovar isto.

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  7. Alguns autores defendem que a intenção das ações já são suficientes para julgamento moral sobre as quantidades de prazer/dor envolvidas na ação, e outros defendem que o importante é a quantidade de prazer/dor resultante.
    De qualquer maneira, tal julgamento é falho, não importa se julga-se a a intenção ou o resultado das ações, pois, para ambos os casos fica uma falha: O agente da ação, mesmo com o uso puro da racionalidade, sem subjetividade alguma, em muitos casos não será capaz de entender ou calcular exatamente da mesma maneira que os concernidos a quantidade ou qualidade de prazer/dor da ação, seja potencial ou resultante (mesmo que também esses concernidos calculem unicamente com a razão):
    Há a impossibilidade de calcular o máximo de elementos envolvidos e sua intensidade, seja por sua quantidade, seja pela perpetuação temporal do resultado da ação.

    Não creio que haja tal racionalidade superior capaz de calcular de maneira correta. Caso houvesse certamente não estaria interna ao homem, mas em algum espaço metafísico, e certamente tal racionalidade não serviria à teoria teleólogica, sem antes, transformá-la em uma teoria deontológica.

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  8. Lendo as primeiras postagens e as minhas anotações de aula, acredito que a grande vantagem oriunda da corrente utilitarista às questões éticas, não está na sua crença em ser o ser humano, a priori, racional, mas como bem disse o colega Luciano, a vantagem é o que de positivo gera para o mundo a racionalidade humana. Com as palavras do colega “Os utilitaristas preocupam-se mais diretamente com o bem-estar em nosso mundo.[...] De uma forma mais vasta, o utilitarismo prevê a consideração dos interesses globais - de todos os potenciais afetados – e clama por um balanço positivo entre beneficiados e prejudicados por uma ação.” Fazendo referência ao texto isto seria o que J. Bentham chamou de princípio da felicidade do maior número.
    No entanto, com todas as nossas leituras e debates em sala de aula, me pergunto qual saída o utilitarismo daria para o que me parece ser o ‘mal da ética’ do século XXI: o relativismo das questões sociológicas.

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  9. Minha percepção da proposta utilitarista é a de um modelo voltado à busca de uma forma objetiva e prática para o tratamento das questões morais. Julgo interessante e válida essa abordagem, pois o julgamento das condutas ganha uma espécie de gabarito na forma da intensidade de prazer e dor resultantes da ação humana. Vejo isso como um caminho plausível para a construção de um sistema racional de justiça.

    Contudo, considero que há questões delicadas nessa visão, que dizem respeito à definição de como se estabelecem os limites ou níveis de prazer e dor inerentes a cada ato. Qual mecanismo seria empregado em uma aferição? É certo que estamos falando de elementos puramente racionais? Se considerarmos que há resquícios de irracionalidade na forma como se dão o prazer e a dor, ainda assim o uso do “gabarito” seria válido?

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  10. As idéias utilitaristas defendem o bem estar comum. E respaldam a idéia de que o valor ético tende a determinar aquilo que seria, em sua máxima, o ideal de felicidade (que causaria mais prazer) para o indivíduo e para a sociedade; tendo como referencial o prazer (bem) que é defendido como aquilo que traz felicidade para o ser humano, e a dor (mal) que seria definida como o oposto dos estímulos que gerariam o prazer. Apesar de não estabelecer o ideal, de certa forma, estes dois conceitos constituem parâmetros que motivam para ações consideradas corretas, e fomentam a construção do valor ético. Pois mesmo a ética sendo considerada como algo transcendental, a sua construção deve partir de algum princípio. Pensando assim, aqui pode ser apontado o princípio identificado por Bentham como o princípio da felicidade do maior número, posterior a outros propostos pelo mesmo autor, que muito se aproxima da construção dos valores éticos. O recorte que segue muito elucida sobre o este princípio “os utilitaristas sustentam que quando se parte do princípio da maior felicidade como fundamento da teoria moral é possível sustentar que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, o prazer, a vantagem e erradas conforme tendam a produzir infelicidade, a dor, o sofrimento”. Contudo, sendo ética utilitarista capaz de contribuir, minimamente que seja, com a redução de problemas sociais, políticos, culturais, etc., o debate vale a pena.

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  11. O utilitarismo, do qual Bentham é um dos maiores expoentes, destaca-se por 1 - considerar o homemÉ um ser que pode conhecer o mundo, e conhecê-lo da melhor forma possível, i. .e. racionalmente; e 2 - considerar que bom é o que causa mais prazer (à sociedade) e mau o que causa mais dor.
    Há inúmeros pensadores que escreviam e ainda escrevem segundo essa perspectiva, e eles possuem grandes divergências entre si. No entanto, em comum eles possuem os dois pontos elencados acima e o fato de que preocupam-se com as consequências das ações, não com as intenções.

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  12. A proposta do Utilitarismo é o indivíduo que busca através da INTELIGÊNCIA maximizar o bem estar, o prazer. As ações são devidas, ou normalmente boas e indevidas, ou normalmente más, conforme sejam os seus resultados identificados em termos de prazer e dor.

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  13. Tanto a ética teleológica quanto a não teleológica são teorias que buscam tratar do que é correto ou errado sobre as ações humanas. Ambas estabelecem perspectivas diferentes no tratamento da moral, seja quanto aos conceitos, à sua aplicação e as finalidades. A moral teleológica se verifica na ação capaz de produzir maior bem estar e, a sua utilidade, que a justifica, é amenizar o sofrimento das pessoas, configurando-se o resultado da ação, na sua consequência; de acordo com a moral deontológica, a ação obedece apenas ao dever, ser boa ou má independe do resultado da ação, e o sentido de bom é adquirir caráter universal. Na moral teleológica o sujeito deverá refletir sobre as conseqüências da sua ação, e é no resultado concreto da ação que se encontra o valor moral do ato. Se uma intenção, supostamente “boa”, resultar em consequências danosas, significa que o sujeito “não fez a conta” certa da dor e do prazer nela envolvidos.
    Enfim, será mesmo o prazer a finalidade de uma ação moral?
    De acordo com a concepção utilitarista de Jeremy Bentham, o sujeito é dotado da capacidade de prever e de inferir sobre as (suas) ações, e isso ele faz dialogando consigo e com os outros as impressões (e previsões) que têm sobre a dor e o prazer em relação à elas. O indivíduo, a dor e o prazer formam o “núcleo” que fundamenta os princípios morais de Bentham. O conhecer, segundo Bentham, advém da experiência. Aquilo que o sujeito vivencia resulta em construções humanas que poderão e deverão ser mudadas visando a alcançar, cada vez mais, maior prazer.
    Assim, as ações humanas resultam dos sentimentos de dor e prazer aos quais os indivíduos estão sujeitos, e, essa subordinação, reconhecida como princípio da utilidade, passa a ser a norma de julgamento do que é certo e errado e uma ação será justa de acordo com suas conseqüências: mais prazer, mais justa; mais dor, injusta.

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  14. O utilitarismo é uma tradição filosófica que busca a construção de critérios identificáveis em busca do conhecimento do bem e mal. Ter uma ação analisada por este sistema é buscar uma análise racional das consequências da ação. Qual seria o prazer gerado a quem a pratica? Qual seriam as consequências para os envolvidos nesta ação? Ela geraria prazer ou dor? A proposta ética leva o agente executor a um questionamento de seus atos, embora este modelo aparente certa simplicidade, mostra-se extremamente complexo quando buscamos em atos e não em conceitos o bem e o mal.
    Este sistema em especial nos leva a confrontar situações em que o mal gerado a um individuo deve ser aceito como moralmente correto, desde que gere um bem maior a outros indivíduos. O juízo moral de uma destas situações é extremamente complexo e deve ser totalmente livre de qualquer preconceito daquele(s) que o realiza(m) e ser realizado apenas em uma reflexão racional e profunda.

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  15. Através das leituras é possível chegar ao entendimento de que para os utilitaristas o homem como um ser racional é capaz de pensar e entender as ações humanas. Existe ainda a idéia de que esse homem é capaz de medir o bem ou mal dessas ações através da quantidade de prazer e dor que as mesmas possam causar as pessoas (sociedade). Parece que a discussão entre os próprios utilitaristas é como mesurar esse prazer e dor pensando no geral e ou como determinar o que pode ser realmente prazer e ou dor nas mais diferentes relações estabelecidas nas mais diversas sociedades dentro de uma analisa racional da ação.
    Jucilene.

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  16. Três são os objetivos dos utilitaristas ao investigar a ética: a)construir explicações elaboradas e coerentes das origens sociais e funções da moralidade; b) elaborar uma linguagem capaz de explicar as peculiaridades da ética; c) propor métodos eficientes de investigação aptos para explicar e orientar as ações humanas. Reflexos desse ocular são encontrados na obra Ética Prática de Peter Singer, na qual propõe aproximação da ética com práticas que levam ao limite a legitimidade de alguns princípios historicamente construídos e culturalmente herdados, envolvendo conceitos fundamentais como: a vida, as espécies de vida, a dignidade e a liberdade humana, o direito e a justiça, dentre outros. A ética utilitária, ou prática, utiliza-se de um princípio teleológico: o sentido da ética é garantir a equidade social dos direitos entre os concernidos. Fora deste mesmo princípio pode a ética prática ou utilitária ser justificada?

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